Transformação Ágil – A importância do comprometimento executivo.

Post escrito por: Roberto Simoes

Post 3-4-18

Categoria: Gestão Ágil

O problema é grave, principalmente porque muitos executivos continuam acreditando que o mesmo modelo que trouxe suas empresas até aqui, também conseguirá levá-las para o patamar seguinte. Quando descobrirem que isso não é possível, talvez seja tarde demais.

É impressionante como a dificuldade de engajamento é significativamente maior nos escalões superiores da organização. O que é mais curioso, grande parte das iniciativas de mudança são disparadas justamente pelos ocupantes do andar de cima.

Mas como explicar essa contradição? Parece algo do tipo: precisamos mudar, então mudem todos, mas nós aqui do alto continuaremos fazendo tudo exatamente como sempre fizemos. Ah, sim, já ia esquecendo: esperamos resultados diferentes e bem depressa. É por isso que estamos mudando, certo?

Podemos encontrar pelo menos dois erros graves nesse tipo de postura. Primeiro, excluir-se do processo de transformação. Não adianta colocar todo mundo no barco e ficar na margem do rio dando ordens por megafone. Fica difícil, para não dizer impossível, fazer com que a galera de baixo mergulhe em um enorme desafio de mudança, sem a companhia daqueles que consideram líderes.

Segundo. Nenhum processo de transformação ágil irá gerar resultados de alto impacto no curto prazo. Pode até acontecer, e quando acontece, chamo de efeito colateral positivo. É curioso como as empresas convivem com uma infinidade de esqueletos dentro do armário por anos e, de repente, querem que algo extraordinário aconteça, resolvendo tudo de uma única vez. Infelizmente não existe poção mágica, bala de prata, cálice sagrado, ou qualquer coisa do gênero.

Transformação ágil efetiva exige realimento cultural e, consequentemente, de valores e princípios. Não é algo que conseguimos da noite para o dia. Requer disciplina, perseverança e apoio explícito da alta direção. Sem isso, implantamos apenas novas práticas, cerimônias, papéis e jargões, que de forma isolada, são insuficientes para garantir o alcance dos resultados esperados.

Esse distanciamento e impaciência evidenciam outra patologia bastante comum nas grandes corporações: o “curtoprazismo”. Normalmente pressionadas por ciclos trimestrais de reporte de resultados, as empresas encontram muita dificuldade em enxergar qualquer coisa além desse horizonte. Por conta desses ciclos frenéticos de execução, acabam cometendo todo tipo de pecado: perda de qualidade dos produtos, desrespeito às pessoas, abandono de metas de longo prazo, dentre os mais frequentes.

Aliás, uma das situações mais corriqueiras em empresas que convivem com níveis elevados de entropia, é o que chamo de urgência infinita, ou seja, aquele estágio onde tudo é prioridade. Bem, não vou estender muito a conversa sobre esse tema. Já sabemos o que acontece quando tudo é prioridade, certo?

Então o que falta pra coisa acontecer de verdade? Qual é o ingrediente secreto que precisamos adicionar para materializar a transformação?

Poderia fazer uma lista quase infinita de requisitos, passando por capacitação, planejamento, revisão de processos e estruturas, desenvolvimento de lideranças ágeis, realinhamento cultural etc.

Mas, inegavelmente, não chegaremos ao resultado esperado sem o comprometimento e participação efetiva da alta direção. Não estou falando simplesmente de enviar mensagens, informes corporativos, vídeos ou qualquer outro meio de comunicação indireta. Tudo isso ajuda, mas não é suficiente.

A alta direção da empresa precisa entender efetivamente o que é transformação ágil, a extensão e implicações da mudança, criar e sustentar a nova visão de futuro e, principalmente, estar disposta a patrocinar o esforço em sua totalidade, envolvendo-se de forma ativa na transição.

Transformação ágil não é um projeto, mas sim um processo, que exige dois movimentos simultâneos: de baixo para cima e de cima para baixo. Se isso não acontecer, todo o restante também não irá acontecer.

E quanto aos riscos? Claro, eles existem. Uma abordagem de transformação adequada pode ajudar na mitigação de boa parte deles, mas risco zero é ficção. Aliás, a “Curva J” existe precisamente para lembrar que todo processo de transição pode ocasionar redução temporária de resultados.

Mas como disse Douglas MacArthur, “não existe segurança neste mundo. Somente oportunidades”.

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